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Resenha - O Próximo da Fila




Livro difícil de resenhar, este O Próximo da Fila, de Henrique Rodrigues, Editora Record,192 páginas.
É um romance de formação, baseado em um poema com um toque de autobiografia de um autor que já trabalhou em Fast-foods.
Resolvi botar aqui o poema que inspirou o livro, pois achei que captura melhor a essência dele do que eu jamais poderia ao tentar descrevê-lo.

ELEGIA DA PASSARELA
logo que fiz 15 anos, meu irmão 16,
conseguimos trabalhar no mcdonald’s
ai que felicidade a carteira assinada
ai que beleza ter um uniforme
militar antes da hora

do frio pro quente descarrega e corta batata
suor pingando na carne
gordura sal luzes piscando
atende o próximo mata a fila
cata a guimba pensa que é quem?

e esfregão se passa em formato de oito
símbolo do infinito
andando pra trás


e era rap secreto pra trollar o gerente
e era festinha de sábado
os passinhos ensaiados com o Feijão
a poesia lida com o Helyo
as gêmeas sábias Ana e Maria
o Gil, então magricela
a Alícia ria de tudo
o Oliveira, que apelidei de Perigoso
todos queriam ficar com a Rosinha
e acabavam no supernintendo

e teve aquela vez
atrasado o pagamento
greve no turno da tarde
paramos o marxdonald’s
pra ver robocop 2

e atendemos o próximo da fila
na adolescência colesteroica
hoje o ônibus expresso
demolio o eme gigante
aquele golem invencível
no lugar, uma passarela

de lá de cima avistamos
a nossa via exclusiva
saindo ali da taquara

é nosso bonde até não sei onde
nos espalhamos por toda a cidade

ela cresceu tanto...nós não!
permanecemos circinflexos
imutáveis:a cidade
é a próxima da fila

ela passa que o tempo corre
pequeno feito gergelim.


A narrativa linear, passada em um Brasil dos anos noventa, do qual já esquecemos a penúria e a pobreza, é desconcertantemente passível de identificação.
O protagonista poderia ser qualquer um, ele não tem nome. É apenas um rapaz que sonha com coisas melhores, mas tem que lidar com a própria realidade desconfortável. Um subemprego numa rede de fast-food, o pai morto, a responsabilidade de ser o provedor da família, aliados à tristeza que já é apenas existir e crescer.
Seja escrevendo poesias em guardanapos de lanchonete, analisando o próximo da fila, ou passando o esfregão no chão em oito, num looping infinito, o livro retrata um cotidiano miserável e sem cor desse protagonista.
Mas, longe do enfado que esse recorte parece trazer, a narrativa é ágil, poética e agradável. Um pouco dolorosa, à medida que você se identifica com o protagonista sem identidade.
Henrique Rodrigues transmite à obra uma carga emocional certeira, certa nostalgia inocente, uma miríade de sentimentos numa narrativa simples, sem exageros e apelos, sem mistérios nem rodeios, apenas nos fazendo refletir sobre nossa própria rotina enfadonha, nossa própria existência.
Coisa de mestre, ou talvez seja coisa da minha cabeça.
Fato é que o livro é tão delicioso quanto as batatas da capa, e de digestão quase tão difícil quanto.

Vale muito a leitura, e acima de tudo, a reflexão.


12 comentários:

  1. Oiii Amanda, como vai menina?
    Realmente eu amei essa capa kkkkkkkkkkk gente que fome louca, eu até que gostei do enredo da história, da premissa, mas não seria uma boa hora para ler, sabe quando você sente que não chamou atenção? Assim me senti em relação a este livro.
    Beijão

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  2. Nossa que livro, se inspirar em um romance e fazer um livro sobre tal realidade realmente n é para qualquer um. As empresas de fast-good tem um trabalho muito puxado e ruim e essa deve ser uma realidade muito ruim. Ótima resenha e esse livro deve ser mt bom. - Joanna Amaro.

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  3. Oie. Já tinha ouvido falar deste livro antes. Não é algo que desperte minha vontade de ler, mas a resenha apesar de você classificá-la como difícil ficou muito boa!
    Beijos
    Blog Relicário de Papel
    relicariodepapel.wordpress.com

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  4. Oi, Lilian, querida!
    Já tinha ouvido falar sobre o livro. É uma leitura ótima.
    Só a reflexao que o livro traz já vele a pena.

    Beijinhos...
    http://estantedalullys.blogspot.com.br/

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  5. Oie
    já ouvi falar do livro e não parece ser o tipo de livro que curto ler no momento mas quem sabe eu tente daqui um tempo, anotei a dica e adoooreeei essa capa hahahaha

    Beijos
    http://realityofbooks.blogspot.com.br/

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  6. Oioi!
    Não conhecia o livro O Próximo da Fila e ja fiquei com agua na boca pela capa, haha... achei interessante.
    Não é um livro que leria, confesso. A premissa nao me chamou mto a atenção, mas gostei de conhecer melhor o livro aqui no blog.
    Valeu pela dica.
    Beijos.

    Livros e SushiFacebookInstagramTwitter

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  7. Oiii Amanda, tudo bem?
    Adorei a resenha. Não conhecia o livro ainda, mas adorei conhecer.
    Acho que muita gente se identifica com essa história - e eu também. O que é uma pena, pois muitas pessoas não conseguem sair dessa vida e são praticamente sem identidade :(
    Beijooos
    http://profissao-escritor.blogspot.com.br/

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  8. Ei, tudo bem?
    Eu tenho esse livro desde o ano passado e estava bem curiosa para lê-lo, mas outras leituras acabaram passando na frente e deixei esse de lado. Adorei a sua resenha e espero curtir e refletir bastante com esse livro, que parece ser incrível.

    Beijos, Gabi
    Reino da Loucura

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  9. Olha só, um livro ambientado nos anos 90, nunca li nenhum!
    Este parece bom e se tiver oportunidade irei ler.
    Bjs

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  10. Oiee,
    Nunca li um livro ambientado nos anos 90 e esse parece ser muito bom e eu adorei a capa.

    Abraços!
    http://lendocomobiel.blogspot.com.br/

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  11. Interessante e ímpar. Foi a impressão que tive com sua resenha. Gostei do poema que inspirou o livro. Adorei a resenha!
    Abraço;

    http://estantelivrainos.blogspot.com.br

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  12. Oi!
    Primeiro, a capa desse livro da a maior vontade de comer batata frita, rs
    Segundo, eu recebi ele em parceria com a Record ano passado, mas não curti muito, não faz muito meu estilo.
    Mas agora lendo sua resenha vi que talvez se tivesse dado uma chance a ele, poderia gostar.
    Vou por na minha lista :)

    Bjs!

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O Poesia na Alma pertence ao universo da literatura livre, como um bicho solto, sem dono e nem freios. Escandalosamente poéticos, a literatura é o ar que enche nossos pulmões, cumprindo mais que uma função social e de empoderamento; fazendo rebuliço celular e sexo com a linguagem.

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