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Quatro autoras com poesias musicadas






Você já teve a sensação ao ouvir uma música pela primeira vez de que conhecia a letra? Ou ao ler uma poesia e começar a cantar? Isso já aconteceu comigo quando li um o Soneto n°. 11, de Camões, que na verdade, não lia, cantava, mesmo desafinada, rememorando a canção de Monte Castelo, de Legião Urbana. Há também o caso de Maria Bethânia, que não sabe, mas me foi uma professora de literatura, afinal, ela não separa música e poesia, a propósito, isso me faz chorar e não é pouco. Vocês podem conferir aqui o Caderno de Poesia.

Há quem diga que a poesia só é poesia se ela for musicada e há quem discorde. Honestamente, acho que musicada ou não, ganhamos quando o texto nos toca a ponto fixar em nossas células, de reconstruir memórias ou tirar da zona de conforto, nos dá uma nova perspectiva sobre nossa existência, talvez, só nos fazer rir ou chorar, e melhor, quando temos a simples oportunidade de ler ou ouvir, de alguma forma, aquela poesia fez parte de nossa vida.



Dando continuidade ao projeto, Quero livros escritos por mulheres (Que não vai parar só por que o dia das mulheres passou. O nome disso é resistência. Se nada muda, resistimos, lutamos, incomodamos.), trouxemos algumas escritoras que tiveram suas poesias musicadas, infelizmente, é mais fácil encontrar homens com poesias musicadas que mulheres. Fizemos um pequena e rápida seleção das escritoras, suas poesias e os interpretes, mas se você conhece outras poesias escrita por mulheres que foram musicadas, diz nos comentários, vamos propagar essa informação.

FLORBELA ESPANCA   
Fanatismo, por Fagner



Fanatismo


Florbela Espanca

Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida. 
Meus olhos andam cegos de te ver! 
Não és sequer razão do meu viver, 
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida... 
Passo no mundo, meu Amor, a ler 
No misterioso livro do teu ser 
A mesma história tantas vezes lida!

“Tudo no mundo é frágil, tudo passa...” 
Quando me dizem isto, toda a graça 
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, digo de rastros: 
“Ah! Podem voar mundos, morrer astros, 
Que tu és como Deus: Princípio e Fim!”



CECÍLIA MEIRELES     
Canteiros, por Fagner

Canteiros

Cecília Meireles


Quando penso em você, fecho os olhos de saudade
Tenho tido muita coisa, menos a felicidade
Correm os meus dedos longos, em versos tristes que invento
Nem aquilo a que me entrego já me traz contentamento

Pode ser até manhã, cedo claro feito dia
Mas nada do que me dizem me faz sentir alegria
Eu só queria ter no mato um gosto de framboesa
Prá correr entre os canteiros e esconder minha tristeza

Que eu ainda sou bem moço prá tanta tristeza
E deixemos de coisa, cuidemos da vida,
Pois se não chega a morte ou coisa parecida
E nos arrasta moço, sem ter visto a vida.




CECÍLIA MEIRELES
Os Inconfidentes, por Chico Buarque


Os Inconfidentes

Cecília Meireles

Toda vez que um justo grita
um carrasco o vem calar
quem não presta fica vivo
quem é bom, mandam matar
quem não presta fica vivo
quem é bom, mandam matar

foi trabalhar para todos
e vede o que lhe acontece
daqueles a quem servia
já nenhum mais o conhece
quando a desgraça é profunda
que amigo se compadece?

foi trabalhar para todos
mas, por ele, quem trabalha?
tombado fica seu corpo
nessa esquisita batalha
suas ações e seu nome
por onde a glória os espalha?

por aqui passava um homem
(e como o povo se ria!)
que reformava este mundo
de cima da montaria
por aqui passava um homem
(e como o povo se ria!)
ele na frente falava
e atrás a sorte corria

por aqui passava um homem
(e como o povo se ria!)
liberdade ainda que tarde
nos prometia


HILDA HILST

Hilda teve um CD inteiro dedicado as suas poesias em parceria com o Zeca Baleiro - Ode Descontínua e Remota para Flauta e Oboé - De Ariana para Dionísio -  com a participação de várias vozes femininas como Rita Ribeiro, Maria Bethânia, Ângela Rô Rô, etc. 



I
Hilda Hilst

É bom que seja assim, Dionísio, que não venhas. 

Voz e vento apenas 
Das coisas do lá fora 

E sozinha supor 
Que se estivesses dentro 
Essa voz importante e esse vento 
Das ramagens de fora 
Eu jamais ouviria. Atento 

Meu ouvido escutaria 
O sumo do teu canto. Que não venhas, Dionísio. 
Porque é melhor sonhar tua rudeza 
E sorver reconquista a cada noite 

Pensando: amanhã sim, virá. 
E o tempo de amanhã será riqueza: 
A cada noite, eu Ariana, preparando 
Aroma e corpo. E o verso a cada noite 
Se fazendo de tua sábia ausência.




II
(Hilda Hilst)


Porque tu sabes que é de poesia

Minha vida secreta. Tu sabes, Dionísio,

Que a teu lado te amando,

Antes de ser mulher sou inteira poeta.

E que o teu corpo existe porque o meu

Sempre existiu cantando. Meu corpo, Dionísio,

É que move o grande corpo teu



Ainda que tu me vejas extrema e suplicante

Quando amanhece e me dizes adeus.



IV
Hilda Hilst

Porque te amo

Deverias ao menos te deter

Um instante



Como as pessoas fazem

Quando vêem a petúnia

Ou a chuva de granizo.



Porque te amo

Deveria a teus olhos parecer

Uma outra Ariana



Não essa que te louva



A cada verso

Mas outra



Reverso de sua própria placidez

Escudo e crueldade a cada gesto.



Porque te amo, Dionísio,

é que me faço assim tão simultânea

Madura, adolescente



E porisso talvez

Te aborreças de mim.




ALICE RUIZ
Quase Nada, por Zeca Baleiro


Quase nada
Alice Ruiz

De você sei quase nada

pra onde vai ou porque veio
nem mesmo sei
qual é a parte da tua estrada
no meu caminho

será um atalho
ou um desvio
um rio raso
um passo em falso
um prato fundo
pra toda fome que há no mundo

noite alta que revele
o passeio pela pele
dia claro madrugada
de nós dois não sei mais nada

se tudo passa como se explica
o amor que fica nessa parada
amor que chega sem dar aviso
não é preciso saber mais nada

21 comentários:

  1. Olá! Confesso que não é um estilo que eu leia com muita frequência mas acho lindo a sensibilidade que cada palavra colocada trás.. Em cada sentido e combinação, é uma arte muito bela.. <3

    Beijos

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  2. Eu amo poesia e musicada então... Me parece tão mais impactante, sabe? Tenho um cd com poemas musicados do Bukowski e é sensacional. Esse link da Hilda é um achado e tanto! Obrigada por isso.

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    1. Pela Deusa Cher, preciso desse Cd, não conhecia a existência, amo o Buk.

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  3. Olá!
    Eu já tive essa sensação de conhecer a letra de algum lugar e constatei, na época, que não era doida. Eu não leio muito poesias, mas as que ouvi como música, eu adorei e eu acho que muitas músicas são poesias, mesmo sem ter sido antes, sabe?
    Adoro Os inconfidentes.
    Beijos!

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  4. Olá!!!

    Não sabia que essas músicas foram escritas por mulheres, mas que orgulho!!

    Amei seu post e vou sempre acompanhar!

    Beijos!!!

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  5. Nunca consegui ler o Soneto de Camões sem cantar e tem muitas outras canções que levo em mim como poesias, de tão tocantes que são. Agora fiquei de boca aberta... eu amo Canteiros, amo muito mesmo e nunca imaginei que era da Cecília Meireles. As demais apesar de lindas letras eu não conhecia, mas vou dar uma atenção ao do Zeca Baleiro e a do Chico, que gosto bastante. Adorei a postagem.

    Abraços
    https://cabinedeleitura0.blogspot.com.br/

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    Respostas
    1. Eu concordo com você em tudo e tipo, devemos ficar de olho em chico, o cara é poesia pura e Bethânia é uma entidade hahahahahahahaha

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  6. Muito legal esse post, amei conhecer essas poesias que são músicas também. Não consigo me lembrar de nenhuma agora, mas poesia e música sempre vão estar ligadas na minha mente.
    Beijos
    Mari
    Pequenos Retalhos

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  7. Ola
    Bela dica para quem curte poesia e música. Infelizmente eu não sou fã.
    Beijo
    Raquel Machado
    Leitura kriativa
    Http://leiturakriativa.blogspot.com

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  8. Oi, tudo bem?
    Que post lindo! Suspirando aqui, enquanto respondo ouvindo! Confesso que conheço Cecilia Meireles, mas não conhecia o poemas e nem eles musicados! De toda a sua lista, só mesmo Quase Nada de Alice Ruiz. Mas todos são lindos e profundos. Fiquei encantada com este post, parabéns!
    http://colecionandoromances.blogspot.com.br/

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  9. Olá, que encantador o seu post! Amei conferir esses poemas de autoras que foram musicados, já conhecia as autoras mas não todas as poesias.

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  10. Ola
    Que post lindoooo demais, estou ouvindo o spotify e já coloquei os Poemas de Hilda Hilst ..
    Ouvindo e adorando...
    Otima dica
    bjus

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  11. poesia não é muito minha praia. Não consigo ter essa sensibilidade que o estilo propõe.
    Mesmo assim adorei saber sobre a poesia musicada e dos exemplos expostos!
    Parabéns pelo post!

    Beijinhos!

    #Ana Souza
    https://literakaos.wordpress.com

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  12. Que seleção maravilhosa! Amo todos! As de Florbela são especiais porque lembra minha adolescência. As de Alice Ruiz é especial porque juntou Zeca Baleiro que admiro demais.

    Beijos

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  13. Olá Lilian, amei a seleção de poesia musicada que você escolheu, já conhecia e elas são lindas *-* Enfim, adorei seu texto também.

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  14. Olá, tudo bem? Confesso que não conhecia essas poesias musicadas, porém fiquei encantada com algumas. Foram lindas de ouvir e as letras possuem significados maravilhosos. Adorei o post <3
    Beijos,
    http://diariasleituras.blogspot.com.br

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  15. Oiii
    Eu não sabia disso menina! Mas adorei, achei as canções belas e tocantes!
    Bjus

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  16. Olá!
    Menina! Não sabeia que Maria Bethânia, foi uma professora de literatura. Que legal!
    Adooooooro Canteiros interpretado por Fagner e não sabia que era uma poesia de CECÍLIA MEIRELES. Duas informações que adorei saber em sua postagem!
    Parabéns
    Nizete
    Cia do Leitor

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    Respostas
    1. Pra mim é ela foi uma professora de literatura, a julgar a relação dialógica dela com a poesia.

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  17. Dificilmente gosto de ler poesias, mas fiquei encantada por não conhecer essas poesias que foram musicalizadas, prefiro hein. Gostei bastante da Fanatismo, de Florbela Espanca. Beijos

    Nara Dias
    www.viagensdepapel.com

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  18. Oi.
    Tudo bom?
    Não tinha.ideia que essas lindas musicas foram escritas por mulheres.
    Amei de verdade sua postagem.
    Beijos

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O Poesia na Alma pertence ao universo da literatura livre, como um bicho solto, sem dono e nem freios. Escandalosamente poéticos, a literatura é o ar que enche nossos pulmões, cumprindo mais que uma função social e de empoderamento; fazendo rebuliço celular e sexo com a linguagem.

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