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Resenha - O histórico de um amor fodido





O Amor é fodido, de Miguel Esteves Cardoso (autor português), Editora Francisco Alves, 1995, retrata a história de amor entre João e Tereza e como os dois fuderam com o amor pelo olhar e humor ácido de João, narrador da história.

É preciso cair num poço de água gelada para me sacudir de ti. Deixaste em destroços a minha vida, antes e depois de ti.

Após a morte de Tereza, que acontece em situação duvidosa, João vive em puro devaneio niilista, não se sabe, por exemplo, em que momento Tereza morre, visto que o morto mais parece o narrador e a vida pertence a própria morta.

Quanto mais vou sabendo de ti, mais gostaria que ainda estivesses viva. Só dois ou três minutos: o suficiente para te matar. Merecias uma morte mais violenta. Se eu soubesse, não te tinha deixado suicidar com aquelas mariquices todas. Aposto que não sentiste quase nada. Não está certo. Eu não morri e sofri mais do que tu.

A narrativa não-linear contribui para que a angústia de João ganhe proporções surreais e absurdas, de modo que não importa se Tereza está viva ou morta, retribuiu ou não na mesma dimensão o amor que ele sente por ela, interessa que a vida desse homem será direcionada pela imagem da mulher-Tereza.

Por que é que fodemos o amor? Porque não resistimos. É do mal que nos faz. Parece estar mesmo a pedir. De resto, ninguém suporta viver um amor que não esteja pelo menos parcialmente fodido. Tem que haver escombros. Tem de haver esperança. Tem de haver progresso para pior e desejo de regresso a um tempo mais feliz. Um amor só um bocado fodido pode ser a coisa mais bonita deste mundo.

O amor de João tão é perturbador quanto a sua vida antes e depois de Tereza. Ele casa, vai para um asilo, se relaciona com diversas mulheres e está sempre solitário no amor que não morre mesmo que a mulher seja perversa, “Como eras má. Ingrata, caprichosa, cruel e má”. Este amor não carece de bem, mal ou moral, vivos ou mortos, divindades, ele existe, consome e é insubstituível.




O amor é fodido. Hei-de acreditar sempre nisto. Onde quer que haja amor, ele acabará, mais tarde ou mais cedo, por ser fodido. (...) Por que é que fodemos o amor? Porque não resistimos. É do mal que nos faz. Parece estar mesmo a pedir. De resto, ninguém suporta viver num amor que não esteja pelo menos parcialmente fodido. Tem de haver escombros. Tem de haver progresso para pior e desejo de regresso a um tempo mais feliz. Um amor só um bocado fodido pode ser a coisa mais bonita deste mundo.

O narrador vive a dicotomia do morto-vivo. De um lado, o amante morreu com Tereza. De outro, um homem sobrevive com seus negócios e nada mais é o mesmo ou se mistura. Resta um mundo feio, fodido e explorado na linguagem permeada de palavrões, frases curtas, além do sexo animalesco e desprezível. “Tu é que és porca. Dás-me o teu rabo só para eu lamber”. E E esses elementos tidos como sujos e renegados na sociedade e consequentemente na literatura, que tornam a obra grandiosa e livre.  

7 comentários:

  1. Olá!! :)

    Eu nao conhecia este livro ainda, mesmo que ja tenha ouvido falar bastante do autor... A capa nao me atrai.

    Ainda bem que trouxeste a tua opiniao. Contudo, nao me sinto impelido a conhecer, mesmo reconhecendo essa faceta mais chocante/perturbadora.

    Boas leituras!! ;)
    no-conforto-dos-livros.webnode.com

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  2. Eu li sua resenha e senti um pouco a confusão, os sentimentos e todo o peso que a história possui. Gostei mesmo! Anotada a dica!

    Beijos,
    Blog Diversamente

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  3. Olá, gostei de sua resenha e dica de leitura de forma geral, dica anotada.

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  4. Oiieee

    É uma leitura diferente, sem dúvidas, o tipo de obra que pode agradar muito ou até chocar, curioso isso do amante que morre junto com a tereza e resta algo meio que um nada depois. É interessante. Imagino que seja um tipo de amor meio confuso, ora raivoso, ora avassalador, debe ser um pouco intenso de se ler.

    Beijos, Alice

    www.derepentenoultimolivro.com

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  5. Sem dúvidas é uma leitura bem diferente e acredito que nunca vi nada parecido. O que é bom para sair dessa zona de conforto, anotei essa dica <3

    Sai da Minha Lente

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  6. lembrei de Bukowski por causa da linguagem crua, cheia de palavrões. Parece ser uma leitura interessante.

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  7. Olá, tudo bem? Realmente parece ser uma obra grandiosa e que devemos super conhecer. Não conhecia, mas pelos seus comentários seria algo que leria com todo o prazer. Só pelo título vemos a força da obra. Adorei!
    Beijos,
    http://diariasleituras.blogspot.com

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O Poesia na Alma pertence ao universo da literatura livre, como um bicho solto, sem dono e nem freios. Escandalosamente poéticos, a literatura é o ar que enche nossos pulmões, cumprindo mais que uma função social e de empoderamento; fazendo rebuliço celular e sexo com a linguagem.

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