Apenas deixei as portas abertas | Adriano C. Tardoque
ACULADOR EMBEVECIDO
(Para
o Bispo do Rosário)
Enlouquecido?
Apenas deixei
as portas abertas
e tornei-me
sagaz acumulador.
Costurei pensamentos
enrolei desejos
com barbante
forte e incolor.
Inverti os dias
do calendário,
invoquei a fé
do Bispo do Rosário,
que em ditado
propôs num instante
que eu fosse mais um amante
da divindade que a arte
em mim plantou.
Enlouquecido?
Embevecido!
TABLEAUX VIVANTS
Quando o tempo
colar a ferida,
tu lerás tardiamente
o que em paixão
te dei no
presente.
E lembrará do moinho
que te devora
enquanto solto
poemas-pipas
d'alma minha
nos ventos revoltos
do destino,
sem tirar
Cartola
da cabeça.
Aconteça.
Mereça.
VÉU DE ÍSIS
Quando os tambores encruzilhados
incendiaram seu vestido
com o fogo sagrado vindo do chão
e o teu perfume de anis inebriante tomou
meu peito,
eu sonhei em te ver dançar.
Do universo que partia do teu ventre,
véus de seda esvoaçantes em cores e tons
naturais das águas,
das matas, da terra, do fogo, do céu e da
pele
ornam tua alma com sabores e misteriosos
saberes.
Olhos e lábios pintados e delineados,
oferecendo ao ritmo,
a beleza que encantava homens e deuses
durante o rito.
Do lento lamento ao som acelerado do
instrumento, o corpo alucinante
buscando o perfeito gesto ou movimento...
E eu sonhei em te ver dançar no meu
coração e no meu pensamento.
Sobre o autor:
Adriano C.
Tardoque,
48 anos, arteterapêuta, historiador, tec. em museologia, educador e produtor
cultural, além de jornalista. Moro em São Paulo - SP desde que nasci. Tive
poemas publicados em três antologias do projeto TAUP - Toma aí um poema:
“Poesia Minimalista: ou quase”, “Vote: Poesia Política” e “43 Poetas
Neurodivergentes”, todos em 2022. Atualmente, estou elaborando a minha primeira
coletânea “Outono em Outubro”, com poemas escritos nas últimas três décadas.
Instagram:
@actardoque
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