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Escreva Pouco / de J.M. Gouvêa

 



Sim, confesso. O título da coluna de hoje foi propositalmente polêmico. “mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa”. Nunca viria aqui sugerir a vocês que escrevam menos. Ler e escrever são chaves importantes para quem deseja aprimorar seus textos. E embora eu tenha iniciado minha participação aqui no site no assunto Poesia, hoje vou falar para os escritores de prosa. E estes geralmente têm como um dos principais obstáculos, terminar um livro. E quando eu digo “Escreva Pouco”, na verdade eu quero dizer “Escreva Menor”.

 

Em contato com escritores iniciantes nestes últimos meses, notei que uma das principais queixas é que estes não estavam conseguindo terminar seus romances. Muitos até possuem mais de um iniciado, até sagas inteiras planejadas, mas, nada concluído. O diagnóstico que me surge é que a profusão de ideias não necessariamente se importa com a conexão entre elas. Para que concluamos uma história é preciso conectar os fatos. Assim, o entendimento do enredo será pleno e prazeroso para o leitor.

 

Eu sou um adepto fervoroso do planejamento e roteirização de um romance ou até mesmo de um conto, antes de seu início. Gosto da ideia de ter todos os capítulos pré-definidos e saber exatamente por onde minha escrita irá passar para contar a minha história. Vocês viram, na última coluna, que faço isso até com poemas, às vezes. Mas entendo que muitas pessoas possam se sentir tolhidas com tanto “controle”. Venho então, sugerir outra abordagem, embora não descarte trazer em conversas futuras, métodos de estruturação de texto.

 

A minha sugestão para que você comece a terminar suas histórias é torná-las mais curtas. O glamour de se escrever um livro muitas vezes age como um antolhos, nos impossibilitando de sequer cogitar escrevermos um conto. Para quem está começando, optar pelo conto pode ser uma saída ideal para superar a virgindade da escrita de maneira mais rápida. Em poucas páginas podemos concluir uma história e nos vermos diante de uma obra pronta, com nosso nome ou pseudônimo.

 

Além do senso de satisfação e gratificação ao termos algo nosso concluído, não devemos tratar os contos apenas como exercícios de desenvolvimento, nem de maneira menos entusiástica. São obras de arte como outra qualquer. Muitos nomes importantes da literatura, inclusive, têm boa parte de sua carreira – ou a totalidade dela – baseada nas pequenas histórias. Edgar Alan Poe, Stephen King, H.P. Lovecraft são alguns exemplos estrangeiros. Cora Coralina, Machado de Assis e Álvares de Azevedo figuram dentre o panteão de contistas nacionais.

 

Mas o conto é apenas um livro em miniatura? Quase isso. Contos não tem o “tempo” que um romance padrão teria. Portanto, generalizando, deve conter poucas cenas e basicamente, um protagonista e um ou dois outros personagens. Seu enredo não precisa conter a estrutura padrão de três arcos – início, meio e fim. Deve ser um recorte enxuto de um acontecimento. E os especialistas explicam que seu final não precisa ser completamente “amarrado”. Aliás, ao contrário, o ideal é que o conto termine, deixando uma pulga atrás das orelhas do leitor. Que seu gosto permaneça na boca depois de lido e que gere reflexão.

 

Eu recentemente segui os conselhos do best-seller nacional Eduardo Spohr (inclusive recomendo que participem do grupo dele no Telegram, é só buscar pelo nome que acha fácil) e estou lendo a compilação Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século, com seleção de Ítalo Moriconi. Um santo remédio que deve ser administrado da seguinte forma: um conto por dia, para que ele possa ser assimilado melhor pelo cérebro e que se desdobre o máximo possível. Efeitos colaterais: palpitação, momentos pesados de reflexão e aumento considerável do respeito aos autores nacionais.

 

E você, já escreveu algum conto? Está no meio de um romance e não consegue terminar? Deixe aí nos comentários. Até o próximo papo, viva a sua história!






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