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Perfil dos escritores e personagens da literatura brasileira contemporânea


A pedido do blog Infinitos Livros, precisamente da Samy, adiantarei, superficialmente, uma temática que colunistas, a partir de abril, discorrerão aqui no blog. Fiz um comentário no blog dela como são feitas, no Brasil, a seleção de autores por grandes Editoras. REPITO: GRANDES EDITORAS. Nas outras, o autor paga pela publicação; sabe quanto ele gasta em média para mandar um livro para seu blog? A média é de R$20,00 por livro enviado. 
O que posto aqui não é uma opinião, é uma pesquisa bem fundamenta por anos de estudos por uma pesquisadora da UNB – Universidade de Brasília. Desde o meu primeiro período da faculdade que pesquiso sobre leitura e escrita, apesar de dar aula há quase dez anos, minhas pesquisas de cunho científico iniciaram em 2007. Nos últimos anos, pesquiso, na área literária, sobre gênero. Mas, deixarei aqui para vocês alguns dados da pesquisa da Regina Dalcastagnè. Nos últimos anos, houve mudança, porém a passo de tartaruga e com efeitos de literatura 'certa'. Discorro sobre a temática do ponto de vista de estudiosa e autora... Eu vou a muitos eventos literários pelo Brasil e a realidade ainda não é animadora... De qualquer maneira, em abril estaremos tratando sobre o assunto com mais afinco até o final do ano... Tem um link que dá direto para entrevista da pesquisadora, sugiro que leiam, revelador. De qualquer maneira, este ano, vocês verão resenha sobre o livro em questão... 



Veja aqui:

Literatura e estatística são campos que raramente se cruzam. Quando o fazem, podem gerar polêmica.É o caso de uma pesquisa coordenada por Regina Dalcastagnè, da Universidade de Brasília (UnB), que pretende traçar um perfil dos escritores e dos personagens da literatura brasileira contemporânea.
Os primeiros resultados foram divulgados em publicações acadêmicas, em 2005, com repercussão na imprensa. O debate foi renovado com o lançamento, em 2012, do livro Literatura Brasileira Contemporânea — Um Território Contestado (Editora Horizonte/Editora UERJ, 208 páginas, R$ 45), que disponibiliza os números da pesquisa. Foram lidos 258 romances, publicados de 1990 a 2004, pelas editoras Companhia das Letras, Record e Rocco. A pesquisa revelou que os autores, na maioria, são brancos (93,9%), homens (72,7%), moram no Rio de Janeiro e em São Paulo (47,3% e 21,2%, respectivamente).Esse perfil médio do escritor brasileiro não é exatamente uma surpresa. A pesquisa inova ao dar números para o fenômeno, mostrando a dimensão do abismo que separa a diversidade da sociedade brasileira e sua efetiva presença na literatura. É a confirmação de uma hipótese que já se intuía: o campo literário ainda é um território para poucos.
— Achei excessivo o número de autores brancos, comparando com a realidade do país. Claro que sabemos que há uma dificuldade maior para pessoas não brancas participarem de qualquer campo de discurso, mas foi um número que surpreendeu — diz Regina (leia entrevista).
O perfil médio dos escritores se assemelha à representação dos personagens nos romances brasileiros contemporâneos. Eles são, em sua maioria, homens (62,1%) e heterossexuais (81%). As principais ocupações dos personagens masculinos são escritor (8,5%), bandido ou contraventor (7%) e artista (6,3%). As personagens femininas são donas de casa (25,1%), artistas (10,2%) ou não têm ocupação (9,6%). A assimetria prossegue no que diz respeito à cor. Os personagens negros são 7,9% e têm pouca voz: são apenas 5,8% dos protagonistas e 2,7% dos narradores. Os brancos são, em geral, donas de casa (9,8%), artistas (8,5%) ou escritores (6,9%). Os negros são bandidos ou contraventores (20,4%), empregados(as) domésticos(as) (12,2%) ou escravos (9,2%). Enquanto a maioria dos brancos morre, na ficção, por acidente ou doença (60,7%), os negros morrem mais por assassinato (61,1%). A escritora Ana Maria Gonçalves observa:
— Teríamos que confrontar esses números com dados reais para saber o quão próximos ou distantes estão da realidade. Mas também é certo que, por ignorância — e uma de suas muitas consequências é o racismo — e/ou costume, características tidas como negativas são muito mais atribuídas a personagens negros — comportamento copiado da vida real — do que a personagens brancos.
O escritor e crítico Sérgio Rodrigues, do blog Todoprosa, contrapõe:
— O mérito sociológico do levantamento é evidente, mas esse tipo de análise baseada no perfil sociocultural dos autores, típico dos estudos culturais, tem alcance limitado para dar conta do fenômeno literário. A coisa não é tão simples. Guimarães Rosa era branco, urbano e altamente educado, mas ninguém fez uma melhor tradução literária do sertão profundo.
Pesquisa será replicada no RS
Apesar de pouco expressiva em números, a representação das mulheres na literatura indica uma tendência de crescimento: elas estão sendo mais publicadas por grandes editoras do que antes. Depois de estudar os romances publicados entre 1990 e 2004, a equipe de Regina Dalcastagnè fez o mesmo com romances da época da ditadura, de 1965 a 1979. Das décadas de 1960 e 1970 para as décadas de 1990 e 2000, a proporção de autoras cresceu de 17,4% para 27,3%, uma possível conquista do feminismo que floresceu nesse período. Já a presença de personagens femininos decaiu de 40,7% para 37,8%. No que diz respeito à cor, a proporção de autores brancos cresceu de 93% para 93,9%.
A presença de autores nascidos no Rio Grande do Sul passou de 4,7% para 12,7%, possivelmente devido à proliferação de oficinas literárias. Um dos participantes da equipe de Regina, o professor de literatura Ricardo Barberena, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), realizará uma pesquisa semelhante, com foco nos personagens de romances publicados por editoras gaúchas. Os primeiros números devem ser divulgados neste ano.
— Uma de nossas hipóteses é que houve uma mudança para uma prosa mais urbana. A questão espacial será interessante de se pensar — diz Barberena.
Confira a repercussão da pesquisa


“É inevitável ver dados como esses e não lamentar. Todavia, acho importante fazer uma distinção: é claro que seria interessante ter uma literatura que refletisse melhor a heterogeneidade da população brasileira, mas disso não podemos concluir que a literatura tem a obrigação de refletir essa heterogeneidade.”
Daniel Galera, escritor

“É uma sociedade mestiça, mas na literatura predominam os brancos porque são um grupo que recebeu mais instrução. Hoje, o acesso de grupos mistos à universidade é maior, mas essas pessoas de que estamos falando foram formadas nos anos 1970. Pode ser que no futuro haja maior equilíbrio.”

Regina Zilberman, professora da UFRGS



“É provável que escritores saiam das camadas mais educadas da população, onde a maioria é branca. É natural que escritores em geral falem de universos próximos aos seus. Agora, como na resposta anterior, isso é uma análise mais qualitativa que quantitativa. Quanto a gêneros, é uma discussão mais complexa, e não dá para esperar que seja 50%-50%.”
Michel Laub, escritor

“Minha experiência como poeta e escritor em Porto Alegre me ensinou que o desconforto é mútuo, isto é, às vezes represento o outro, o estranho e, de outra parte, os demais escritores, que deveriam ser o que chamamos “os [meus] iguais”, formam um grupo com o qual não alcanço a menor identificação. Felizmente, a contragosto do solo, a literatura brasileira tem uma série de artistas que (não direi que fugiram) afrontaram esse “perfil médio”: Machado de Assis, Cruz de Sousa, Orides Fontela, Oliveira Silveira. Alguém argumentará que eles são exceções que confirmam a regra, mas, lembrando Jean-Luc Godard, digo que o cânone (o convencional) é a regra, a arte é exceção, mesmo.

Ronald Augusto, escritor
Fonte: Geledes

17 comentários:

  1. Me enxergo nas minorias descritas acima, sou escritora, mulher e negra,
    o mercado editorial não é fácil, mas felizmente está em crescimento, e o
    número de mulheres autoras também.
    beijos

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  2. Olá!
    Gostei muito do post e de saber mais sobre a situação dos escritores no Brasil. Como disse a professora Regina, da UFRGS, é provável que no futuro as camadas "excluídas" conquistem mais espaço, mas para isso ainda precisamos evoluir muito na definição desses padrões preconceituosos, como dos próprios personagens negros serem de classe baixa e identificados como criminosos. Eu poderia me estender ainda e falar sobre o perfil dos medalhistas de olímpiadas de matemática, que é algo que participo, e onde também percebo um sério padrão branco, masculino e de classe média. Como menina, me encaixo entre as apenas 25% medalhistas mulheres.

    Leitores Forever

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  3. Oi Lilian, tudo bem? Gostei bastante da matéria e achei a pesquisa bastante interessante. Mas acho que esses números vem mudando atualmente, é verdade que ainda encontramos poucos escritores negros, e muitos antes estão no eixo Rio-São Paulo, mas não concordo muito com mulher, temos visto muitas escritoras sendo publicadas em grandes editoras. Também não concordo muito quanto as ocupações dos personagens, acho um pouco generalista demais. Mas enfim, não sou especialista, mas digo pelo que leio na literatura nacional contemporânea. Mas a verdade é que o mercado editorial brasileiro ainda é muito complicado e poucos escritores tem a chance de serem publicados e reconhecidos.

    Beijinhos,

    Rafaella Lima // Vamos Falar de Livros?

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  4. O post foi interessante. É curioso esse "preconceito"editorial. Um mundo tão diverso como da literatura, não devia ter isso.
    www.belapsicose.com

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  5. Eu não acredito que eu perdi o meu comentário gigante por recarregar a página sem querer :((((
    Caramba, eu não sei se vou lembrar tudo que tinha dito antes, mas vou tentar, ok?
    O que eu tenho a dizer sobre essa pesquisa é que ela tem grande importância para nós, que sabemos que boa parte dos talentos não fazem parte dessa maioria homem cis branco classe média-alta hétero.
    Onde ficam as mulheres, negros, e homossexuais? Por que eles não são publicados? Será que as pessoas pensam que simplesmente não são aptos a escrever algo de qualidade?
    Isso é reflexo de um preconceito que impera não só na fatia dos escritores, mas em todas as profissões e instituições da vida.
    E como os livros são muitas vezes reflexos de coisas que vivemos, essa realidade está retratada nos personagens das histórias. Negros sempre nos papéis mais irrelevantes, ou nos de marginais, ou em profissões quase nada valorizadas. Mulheres sempre tidas como donas de casa, inferiores, ou objetos.
    E isso é algo que a maioria de nós aceita e considera normal. E infelizmente, essa maioria vai olhar para a pesquisa e pensar: Bem, tudo certo!
    Eu realmente espero que esse trabalho que está sendo feito abra os olhos das pessoas e sirva para que as coisas possam ir mudando!
    Muito legal trazer isso pra gente!
    Beijos, Amanda.
    www.expressodenarnia.com

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  6. Ual parabéns pela matéria ! Eu ainda estou aos poucos me abrindo pra literatura brasileira. Confesso que não dava muita ideia, mas agora estou com o pensamento totalmente diferente.

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  7. Noossa que matéria fantástica! Achei os dados super interessantes, apesar de serem realmente desanimadores. Mas concordo que possivelmente nos próximos anos, irá ter um maior equilíbrio como citou a professora Regina. Assim esperamos né? Beijos

    Mutações Faíscantes da Porto

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  8. Realmente é de entristecer pois a representatividade é muito pequena e podemos imaginar que destes que apareceram nesta pesquisa como "não brancos" não se admitiu deles nada menos que qse uma genialidade ^^ eu não prevejo nada de muito diferente disso nos próximos anos não visto ainda se considera pessoa educada as pessoas que frequentam academia preferencialmente cursos elitizados, para vc ser educado tem que saber falar segundo deus e o mundo menos segundo suas vivencias.. enfim muito bom este artigo. parabéns
    http://florroxapoemasepoesias.blogspot.com.br/

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  9. Fico feliz que o espaço dado à mulher na literatura esteja crescendo, mas precisamos ver mais mulheres como fortes protagonistas do que como simples donas de casa, que venham mais mulheres independentes que fujam ao estereótipo de Amélia...
    Interessante essa pesquisa, Lilian...
    bjs...

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  10. Oii, tudo bem?
    Super interessante a pesquisa!
    Eu fazia uma vaga ideia do quado geral, mas não sabia que era pior que eu imaginava.
    Bjs

    A. Libri

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  11. Oi...
    Nossa, eu estou surpresa...
    Que dados são esses... estou realmente surpresa com isso... acredito que esse mês será muito interessante por aqui no blog, nao irei perder por nada


    beijos
    http://livrosetalgroup.blogspot.com.br

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  12. Oláá
    Caramba, muito interessante o post e a pesquisa, concordo com muita coisa e é uma pena que isso ainda aconteça nos dias de hoje, principalmente com algo tão bonito que são os livros, muito legal a iniciativa do post ;)

    http://realityofbooks.blogspot.com.br/
    Catharina
    Reality Of Books

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  13. Juro pra você que nunca tinha parado pra ver as coisas por essa perspectiva, e o seu post esclareceu muita coisa pra mim. Estou trabalhando num projeto pra faculdade voltado para autores brasileros, e eu estava com muita dificuldade para entender como estava funcionando o mercado por aqui e quem realmente era o meu publico alvo.

    http://laoliphant.com.br/

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  14. Nunca me peguei pensando nestes fatos, pelo menos não até o momento que comecei a leitura do post. Alguns dos números não me surpreenderam, como a maioria ser homem e de cor branca. O que me surpreendeu foi a parte dos personagens. Não tenho lido muitos livros com donas de casa, e nem onde negros são assassinatos em sua maioria, pelo contrário. Fiquei encucada com estes números
    Bjs, Rose

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  15. Bom dia,

    Gostei demais do post, tinha uma ideia muito vaga do assunto e aqui vemos o quanto estamos atrasados e isso precisa mudar, um absurdo...parabéns pelo post...divulgado....abraço.


    devoradordeletras.blogspot.com.br

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  16. Oi, tudo bem? Já tinha lido uma matéria na ZH (daqui de Porto Alegre) sobre esse assunto e achei muito interessante. Como escritora, eu gosto de ficar atenta ao que acontece no meio literário para não repetir os erros, sabe? Fico feliz que o Rio Grande do Sul esteja crescendo. Realmente, aqui a cultura da literatura é muito forte e adoro isso! Na PUCRS, há o único curso de pós graduação em Escrita Criativa do Brasil. Gostei muito do post, pois é muito informativo. Acho que, por mais que esteja focado nos autores, dá também para analisar, em consequência, os leitores.

    Love, Nina.
    http://ninaeuma.blogspot.com/

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  17. Caramba, muito interessante! Achei super legal, gosto de matérias interessantes assim, que deem trabalho pro blogueiro pesquisar e que realmente sejam interessantes para quem leia. Parabéns.
    Bjs, Isabella

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O Poesia na Alma pertence ao universo da literatura livre, como um bicho solto, sem dono e nem freios. Escandalosamente poéticos, a literatura é o ar que enche nossos pulmões, cumprindo mais que uma função social e de empoderamento; fazendo rebuliço celular e sexo com a linguagem.

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