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Resenha - Entrevista com o vampiro




Entrevista com o vampiro, da escritora Anne Rice, é uma publicação da Editora Rocco. Há muito queria ler, mas só conhecia a história por causa do filme, estrelado por Brad Pitt e Tom Cruise, tendo ainda Antonio Banderas como o vampiro Armand e Christian Slater como o repórter que entrevista Louis.

A obra possui uma narrativa fluída, embora não tenha divisão de capítulos. Costumo achar livros assim divididos meio enfadonhos, mas ele se mostrou excepcionalmente fluído e denso. A trama gira em torno da perspectiva de Louis, um vampiro transformado por Lestat no ano de 1791, quando tinha apenas 25 anos. Segundo ele, Lestat o escolheu por ele possuir um imóvel na zona afastada da cidade, que era de interesse do misterioso vampiro. A partir daí, nasceu uma dependência de ambos os lados, e apesar de Louis não sentir afeto de qualquer espécie por Lestat, ao mesmo tempo se via enredado nele, sem conseguir ficar longe de seu 'Criador'.

Louis vai narrando toda a história para o jornalista, que está registrando toda a conversa num gravador portátil com toca-fitas. A noite parece se demorar propositadamente a fim de que o vampiro narre todos os acontecimentos importantes de sua demorada existência. Através de seu relato conhecemos a personagem Claudia, uma criança de cinco anos que ele sugou e Lestat aproveitou a situação para imortalizá-la, numa forma de punir a 'moralidade' de Louis, que se recusava a aceitar sua condição vampírica, de não querer matar e se alimentar muitas vezes com sangue de animais.

Louis não abandonou sua existência mortal. Se indigna com sua condição de morto-vivo, não quer matar, embora seja preciso mas não encontra uma saída para acabar com sua relutância. Se entrega às artes, à leitura de vários livros ao longo das décadas. Se sente responsável por Claudia, tomando conta dela como se fosse sua filha, lhe ensinando a cultura dos mortais, e embora Claudia se assemelhe bastante a Lestat, caçando os humanos sem se importar em matá-los, Louis só deseja protegê-la, inclusive dos rompantes do mestre. À medida que os anos se acumulam, a  menina vira uma mulher, embora sua aparência seja a de uma menina... Ela se torna cruel, manipuladora, e se frustra por que nunca poderá ter o corpo de uma mulher adulta... A maldição é dupla para ela... Usa dessa artimanha para se alimentar por diversas vezes, mas sente-se frustrada em nunca conhecer o 'amor'.

A origem de Lestat é um mistério, ele não fala nunca sobre sua origem, ou como foi mordido, não explica todas as 'regras vampíricas' para Louis, deixando-o sempre 'às escuras.' Debochado, cínico e por vezes arrogante, tem um charme característico e uma queda por vítimas jovens, em especial meninos de tenra idade.

Há certa homoafetividade contida entre os vampiros descritos por Anne Rice. A relação de Lestat e Louis traz muito dessas características. Não há cenas sexuais entre os dois, mas há nuances perceptíveis de erotismo nela. É tudo muito sutil, subjetivo... Se tratando de Claudia, as mentes mais conservadoras e moralistas poderiam definir como pedofilia ou coisa do gênero, pois o tratamento dela com Louis é mais do que 'pai e filha', embora não haja sexo entre eles em nenhum momento. Para a adaptação cinematográfica, a escolha da atriz para dar vida a personagem mirim foi de Kirsten Dunst, na época com 13 anos, a fim de não causar um maior impacto em se colocar uma menina de seis anos contracenando com os adultos...

A trama se divide em 4 partes. A escrita de Rice é bem detalhista, mas passa longe de soar cansativa. Cenários, figurino, costumes da época, bem como o relato de Louis falando sobre como se dá a transformação ou o ato de se alimentar de uma vítima humana. Tudo é muito bem descrito de maneira a prender o leitor, e não a fazê-lo dormir...

Claudia odeia seu corpo minúsculo e aparentemente indefeso. Lestat gosta de provocá-la lembrando-lhe de sua condição. Ela almeja saber como se deu sua transformação e quem lhe dá as respostas é Louis.

“E eu senti novamente aquela paixão por você. Oh, sei que agora a perdi para sempre. Posso vê-lo em seus olhos! Você me olha como aos mortais, de longe, de alguma região de fria auto-suficiência que eu não podia compreender. Mas eu o fiz. Senti tudo de novo, uma ânsia vil e incontrolável de ouvir seu coração martelando, de sentir este rosto, esta pele. Você era rosada e perfumada como são as crianças mortais, doce como um travo de de sal e poeira. Abracei-a de novo, e a possuí novamente. E quando pensei que o seu coração me mataria, e não me importei, ele nos separou e, rasgando seu próprio pulso, ofereceu-o a você. E você bebeu. Bebeu e bebeu até quase esgotá-lo, e ele ficou tonto. Mas, então, você já era uma vampira. E naquela mesma noite bebeu sangue humano, como nas noites que se seguiram.- Sua expressão não mudou. A carne lembrava a cera de velas de marfim; somente os olhos denotavam vida. Não tinha mais nada a lhe dizer. Coloquei-a no chão.- tirei sua vida - disse eu. - Ele a devolveu.- E aqui estamos - ela disse ofegante. - E eu odeio a ambos!”

Os personagens despertam certo fascínio no leitor, e a trama nos mostra certo pessimismo refletido neles. Através dos vampiros e suas personalidades, a autora tece críticas à religiosidade, e tudo tende ao fadado fracasso da existência... A 'honra' da imortalidade não é o suficiente para aplacar o tédio da eterna existência... Isso se reflete bastante na figura de Louis... Ele perdeu sua alma, mas seria o mais 'humano' dentre os personagens, por não ter abandonado por completo sua moral humana. Ele relembra da família, das pessoas que conheceu e que viraram pó, enquanto ele permanece, perdido entre os séculos, buscando algo que o deixe 'vivo' em meio às sombras dos séculos...

Em suma, é um livro para ser digerido apaixonadamente, e se revela o oposto de tudo que você possa ter lido como um 'romance de vampiros' até então...


17 comentários:

  1. Oiii Maria, sou apaixonada por livros de vampiros e sei que seria uma ótima pedida para esse feriadinho, é um dos assuntos que mais gosto que sejam abordados, ótima resenha querida!
    Beijinhos

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  2. Olá,

    Sempre tive curiosidade em relação às obras da Anne, ouvi muitas coisas sobre as histórias dela terem um quê de mórbido e como nunca li nada parecido, fiquei muito curiosa. Acho que esse é o livro mais famoso dela, ainda não tive a oportunidade de ler, mas sempre tive vontade. Adoro histórias de vampiros e o fato de que esse livro é o oposto de tudo o que já li, só me deixa fascinada para conhecer logo essa história.

    Beijos,
    entreoculoselivros.blogspot.com

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  3. Nunca li nada da Anne Rice, mas já ouvi falar muito dela e de seus vampiros, tenho uma certa curiosidade.
    Beijos
    Mari
    www.pequenosretalhos.com

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  4. Nossa, que resenha bem escrita! Deu até um fofinho no coração *___*
    Adoro esse livro e também gostei muito da filme, dos livros de As Crônicas Vampirescas, esse é o melhor com certeza!
    Bjss

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  5. Olá! Li esse livro há tanto tempo que tinha me esquecido um pouco de como ele é envolvente. Obrigada por trazer tantos sentimentos à tona, Rice é uma escritora brilhante e merece a honra de ser conhecida! Bjoooo

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  6. Amo vampiros, mas ainda não tive o prazer de conhecer a escrita da autora. Pela sua resenha, vejo que estou perdendo um tempo precioso e preciso reverter isso o quanto antes!!

    bjs
    www.livrosdabeta.blogspot.com.br

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  7. Oi Maria, eu assisti este filme, e lembro que na época ele marcou. Estava na adolescência, e isso já tem muitos anos. O livro eu conheço também, mas não li ainda, o que é uma pena, pois deve mesmo ser uma leitura maravilhosa.
    Bjs Rose

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  8. Olá, tudo bem? Eu como fã de sobrenatural e vampiros, me sinto em falta por ainda não ter lido os clássicos da Anne Rice. Acho que é uma história riquíssima, já que vi os filmes, e tenho bastante expectativa. Adorei a resenha!
    Beijos,
    https://diariasleituras.blogspot.com

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  9. OOi!
    Já ouvi falar sobre o filme, mas conhecia a história só por nome mesmo. Minha experiência cm histórias vampirescas não vão além dos romances fofinhos, confesso. kkkk Por isso, creio que essa série uma ótima pedida para sair da minha zona de conforto. :) Dica anotada!

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  10. Olá Val, tudo bem?
    Eu assisti esse filme e me diverti horrores com ele. Acredito que não era bem essa a intenção do livro, mas eu não sei porque o filme acabou sendo bastante divertido para mim. Infelizmente não me chamou a atenção o bastante para me fazer querer ler a obra, mas quem sabe no futuro não é? Amei a resenha
    Beijosa

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  11. Oi Maria,
    Morro de vontade de ver o filme. Todo mundo diz que é um clássico e que é muito bom, além de ter atores que eu admiro. Quando ao livro, achei interessante esse fato de uma homoafetividade velada, fiquei com vontade de ler só pra ver se consigo perceber isso da mesma forma que você.
    Beijos
    Blog Relicário de Papel

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  12. Um clássico vampiresco. Impossível ler e não associar os personagens aos atores. Sua resenha está extremamente bem escrita, babei.
    Bjsss

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  13. Eu li a versão em quadrinho e fiquei apaixonada pela história, quero ler a versão pelo olhar e visão de Louie <3 que é justamente essa que você elogia nesse momento kk.

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  14. Oi, Maria ^^
    A série Crônicas Vampirescas é uma das que desejo ler há anos principalmente por conta desse "Entrevista Com O Vampiro" e "A Rainha dos Condenados". Vi os filmes alguns anos atrás e me apaixonei pelos vampiros retratados pela visa da Anne Rice. Logo, continuo desejando a leitura da série mesmo eu não tendo tido uma experiência boa com a escrita dela no passado (da época em que ela se tornou religiosa e ficou os seus trabalhos em histórias cristãs).
    Cláudia é uma personagem que me dá um misto de sentimentos, fora que é a primeira que vi ser abordada o caso dela já que não temos uma criança assim lá em Crepúsculo para contar história. Essa guria é cruel!!!!
    Adorei a sua resenha, viu. Vai continuar a leitura dos próximos volumes?
    Bjs

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  15. Oi Maria, sua linda, tudo bem?
    Eu adoro tramas sobrenaturais e confesso que não me canso de vampiros. Eu só vi o filme quando eu era menor e não lembro muito. Sempre tive curiosidade em ler o livro e pela sua análise ele é bem diferente dos livros que já li sobre o tema e por isso não sei se me agradaria. Vou pesquisar mais sobre ele. Sua resenha ficou ótima!!!
    beijinhos.
    cila.
    http://cantinhoparaleitura.blogspot.com.br/

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  16. Estou lendo esse livro atualmente, estou por volta da página 100 e amando a narrativa elegante da Anne Rice que não cria grandes suspenses, mas está me prendendo de um jeitoooo... Misericórdia! E sim, que noite longa ein!?!? Uma noite que não termina nunca ahahahaha

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O Poesia na Alma pertence ao universo da literatura livre, como um bicho solto, sem dono e nem freios. Escandalosamente poéticos, a literatura é o ar que enche nossos pulmões, cumprindo mais que uma função social e de empoderamento; fazendo rebuliço celular e sexo com a linguagem.

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