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Resenha – O incógnito amado de Marguerite Duras




“Muito cedo na minha vida ficou tarde demais”

A escrita de Marguerite Duras está marcada por sua relação familiar. A exemplo, o amor nutrido pelo irmão mais novo e o ódio ao mais velho, a relação conflituosa com a mãe e o pai morto quando era criança. Em O Amante, Grupo Editorial Record, livro mais autobiográfico e premiado com o Goncourt, a autora traz detalhes de seu caso amoroso com um chinês sem nome. O que para mãe era algo repugnante, a relação de uma branca com um chinês. Isso poderia arruinar a vida da jovem para um futuro casamento e a deixar com fama de prostituta.  

“Ela chora pelo desastre da sua vida, por sua filha desonrada. Choro junto com ela. Minto. Juro por minha vida que nada aconteceu, nem mesmo um beijo. Como é possível, digo eu, com um chinês, como você quer que eu faça alguma coisa com um chinês, tão feio, tão raquítico?”

Na época, a menina vivia num pensionato em Saigon e estudava no Liceu francês. Durante a narrativa, a protagonista vai detalhando a relação da mãe com os três filhos e a predileção pelo mais velho que tinha caráter duvidoso. Tirando o foco central do amante para a mãe.

A angústia da relação conturbada com a mãe compara-se a loucura de seus gozos, a morte no ápice sexual, o amor materno inacessível faz com que a menina transfira o posto de mãe ao amante.

“Os beijos no corpo provocam lágrimas. É como se fossem um consolo. Em casa não choro. (...). Digo-lhe que de minha mãe vou separar-me um dia, que mesmo minha mãe, um dia deixarei de amar. Choro. Ele encosta a cabeça em meu corpo e chora porque me vê chorar. Digo de minha infância a infelicidade de minha mãe ocupou o lugar do sonho. O sonho era a minha mãe e jamais a árvore de Natal (...)”

O romance é narrado pela própria autora em idade avança e se passa quando ela tinha pouco mais de quinze anos deixando a narrativa não-linear e fragmentada. Os relatos sexuais juntos a uma enxurrada de memórias familiares e um amante mais velho, chinês rico e sem nome confere a obra, dor, melancolia, nostalgia. A realidade de um relacionamento embaraçoso com a mãe também exposta na simbologia sexual do amante é o retrato de uma personagem enigmática.


Marguerite Duras, pseudônimo de Marguerite Donnadieu, nasceu em 1914, é considerada uma das mais importantes vozes femininas do século XX na literatura. Durante a segunda Guerra Mundial, filia-se ao partido Comunista e a Resistência Francesa contra os Nazistas. Além de romancista, se dedicou ao teatro, novela e cinema. Algumas de suas publicações são: O Amante; Barragem contra o Pacífico; Amor; Os Insolentes e É Tudo. 

17 comentários:

  1. Oi, tudo bem? Confesso que nunca ouvi falar dessa autora, nunca nem tinha sabido sobre ela como "uma das mais importantes vozes femininas do século XX na literatura". Gosto de biografias e me interessei um pouco pelo livro, mas não completamente, por causa dessa temática sexual, pois é algo que não me interessa, no entanto, reconheço a importância de algo assim ser escrito por uma mulher. Gostei muito da resenha, mas passo a dica, por ora ;)

    Love, Nina.
    www.ninaeuma.blogspot.com

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  2. Acho muito legal, pra falar a verdade amo, quando os escritores colocam experiencias pessoais no que escrevem
    Faz parecer que eles estão do nosso lado sabe?

    Meu Blog <3

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    1. Ne isso, menina, a gente conhece e sente ao passo que próximo, também perturbado com a história

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  3. Oi, infelizmente não conheço esta autora, e meio que ando fugindo um pouco de biografias, salvo de pessoas que realmente admiro. A vida de Marguerite, pelo menos no relato deste livro, parece bem triste e conturbada. É duro quando nem dentro de casa há entendimento, respeito e amor. E imagino como deve ter sido duro para ela, ainda mais na época em que ela viveu onde a mulher em si pouca voz tinha.
    Bjs, Rose.

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  4. Oi oi!

    Tudo bem? Então, eu não conheço nem a obra e nem a autora, faz alguns anos desde que parei de ler clássicos não porque não gosto, mas porque tenho recebido muitos best sellers de editoras para resenhar, então fui diminuindo no número de clássicos e tem quase dois anos que não leio um foi algo quase natural, que aconteceu aos poucos e só fui notar a bem pouco tempo.

    Bom, esse ano quero voltar a ler mais clássicos e gostei da indicação, parece ser uma história bem perturbadora e conturbada, daquelas que vão me fazer ficar vidrada. Toda essa questão da protagonista transferir os sentimentos mal resolvidos com a mãe para o amante só pode dar em desastre.

    Beijinhos
    www.paraisoliterario.com

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  5. Oi.
    Tudo bom?
    Não conhecia a autora, mas confesso que fiquei bem instigados com esse livro.
    Uma pena que a relação famílias dela não era boa a ponto de ser dita em um livro, mas confesso que fiquei doida para ler.
    Ótima resenha.
    Beijos

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  6. Oi Lilian! Não conhecia a autora, mas seu livro não despertou muito meu interesse, biografias não são um gênero que eu leia com frequência, mas sim um que pego apenas quando se trata de alguém que admiro. E, acredito que todo esse apelo sexual presente na obra também me incomodaria.
    Beijos

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  7. Não conheço a autora, mas com certeza essa é uma obra com alta carga emocional. Não acho que seja minha vibe no momento, então dessa vez passo a dica.

    bjs
    www.livrosdabeta.blogspot.com.br

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  8. Não conheço a autora e não gosto muito desse tipo de livro, mas a vida dela parece ser triste e ao mesmo tempo interessante! É uma história que eu leria!

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  9. Olá!
    Eu não conhecia essa leitura, mas apesar de ter um romance na narrativa que demonstra bastante drama e uma vida difícil, acaba não me atraindo porque não gosto de biografias.
    Mas como sempre você consegue nos trazer dicas preciosas e que muita gente não conhece em seu blog.
    Beijos!

    Camila de Moraes

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  10. Eu já tinha conhecimento da autora, mas nunca li nada dela, talvez por falta de tempo! Agora, irei procurar mais sobre suas obras! Adoro livros mais "clássicos" hahaha
    Obrigada pela dica! ♥

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  11. OIieee

    Não conhecia essa obra, apesar de gostar de relatos autobiográficos, não sei ainda se esse seria o meu tipo de leitura embora creio que seria uma história bastante interessante de se conhecer sem duvidas. Quem sabe futuramente...

    Beijos

    www.derepentenoultimolivro.com

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  12. esse livro é maravilhoso *---*
    foi meu contato com Duras ainda na faculdade,numa cadeira eletiva de História do Erotismo...
    <3 deu vontade de reler depois de ver tua resenha, Lili...
    bjs...

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  13. Olá, eu não conhecia o livro, mas achei bem diferente a historia da autora, fiquei curiosa para lê-lo.

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  14. Oi! Tudo bem?
    Gostei muito da resenha :) Porém, não é o tipo de livro que estou acostumada a ler, apesar de ter ficado curiosa. Vou passar a dica dessa vez.

    Bjs!

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  15. Acho que ela produziu os próprios filmes, estou enganada? Há anos li O Amante e assisti ao filme depois, já viu a adaptação? Valiosa tanto quanto a obra escrita.

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  16. Lilian, você faz cada leitura, análise dos textos que dá gosto ler essas resenhas. Eu li o amante, mas não consegui ver as coisas dessa forma e faz todo sentido.

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O Poesia na Alma pertence ao universo da literatura livre, como um bicho solto, sem dono e nem freios. Escandalosamente poéticos, a literatura é o ar que enche nossos pulmões, cumprindo mais que uma função social e de empoderamento; fazendo rebuliço celular e sexo com a linguagem.

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