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Resenha – Mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem






“(...)as histórias são
uma arte medicinal”

Publicado há mais de 20 anos, Mulheres que Correm com os Lobos - Mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem, de Clarissa Pinkola Estés, editora Rocco, tornou-se uma obra de referência no mundo por resgatar, por meio de contos de fadas (originais) e lendas, a mulher selvagem e questionar o lugar da mulher moderna que se tornou uma espécie de ‘animal doméstico’.




“As coisas que estimulam a felicidade e o prazer sempre são também "portas dos fundos" pelas quais podemos ser exploradas ou manipuladas.”

A mulher saudável não renega sua natureza instintiva, pois é justamente essa natureza que a fortalece dos perigos que a saqueiam e a perseguem. Tais perigos distorcem a visão da mulher, manipulando suas bases naturais para algo perigoso e pejorativo, reduzindo seu valor. Ou seja, a essência da mulher passa a ser o inimigo a ser combatido por aqueles que não toleram o próprio fluxo da natureza. E para sobreviver, precisamos nos disfarçar amputando nossa criatividade.

“A Mulher Selvagem carrega consigo os elementos para a cura; traz tudo o que a mulher precisa ser e saber. Ela dispõe do remédio para todos os males. Ela carrega histórias e sonhos, palavras e canções, signos e símbolos. Ela é tanto o veículo quanto o destino”


Apesar disso, Pinkola não monta um manual de sobrevivência porque quando se trata da natureza psicológica e instintiva, as cartilhas se perdem no poder da imensidão do oceano criativo. Há, entretanto, o começo: o despertar por uma pequena brecha que mantem a mulher selvagem respirando por gerações e gerações.

A Mulher Selvagem é a saúde para todas as mulheres. Sem ela, a psicologia feminina não faz sentido. Essa mulher não-domesticada é o protótipo de mulher... não importa a cultura, a época, a política, ela é sempre a mesma. Seus ciclos mudam, suas representações simbólicas mudam, mas na sua essência ela não muda. Ela é o que é; e é um ser inteiro.”



Despertar a mulher selvagem é despertar a cura e isso pode ser facilmente acessado, segundo a autora, pelas histórias, ‘Entramos em contato com a natureza selvagem através de perguntas específicas e através do exame de contos de fadas, histórias do folclore, lendas e mitos.’. Ouvir, narrar e preservar as histórias é o alimento para alma.

“As histórias são bálsamos medicinais. Achei as histórias interessantes desde que ouvi minha primeira. Elas têm uma força! Não exigem que se faça nada, que se seja nada, que se aja de nenhum modo — basta que prestemos atenção. A cura para qualquer dano ou para resgatar algum impulso psíquico perdido está nas histórias. Elas suscitam interesse, tristeza, perguntas, anseios e compreensões que fazem aflorar o arquétipo, nesse caso o da Mulher Selvagem.”

Pensando sobre tudo o que foi lido em Mulheres que Correm com os Lobos e outros livros da autora, enquanto escrevo esta pequena resenha, minha alma sangra pelo incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro, um símbolo coletivo de cuidado e preservação de nossa história fora destruído e isso causa um profundo impacto na Mulher Selvagem de uma nação.

“Foi assim que se perderam muitos dos contos femininos que continham instruções sobre o sexo, o amor, o dinheiro, o casamento, o parto, a morte e a transformação. Foi assim que foram arrasados e encobertos os mitos e contos de fadas que explicavam mistérios antiquíssimos das mulheres. Da maioria das coletâneas de contos de fadas e mitos hoje existentes foi expurgado tudo o que fosse escatológico, sexual, perverso, pré-cristão, feminino, iniciático, ou que se relacionasse às deusas; que representasse a cura para vários males psicológicos e que desse orientação para alcançar êxtases espirituais.”



Mesmo pela dor do luto, pensar no Museu me traz outras perspectivas. Histórias de povos dizimados, humilhados, abandonados, escravizados e que, mesmo assim, mantiveram o sopro da esperança. Judeus, Africanos, Latinos, etc., têm em suas almas a necessidade de ressuscitar as guardiãs das velhas histórias para que, como a "La Loba", a sopradora de ossos, possamos “(...) conclamar os restos psíquicos do espírito da Mulher Selvagem e trazê-la de volta à forma vital com nosso canto.”

11 comentários:

  1. Olá!! :)

    Eu confesso que nunca tinha ouvido falar deste livro, e também não faz muito o meu genero de leitura habitual.

    Seja como for, percebi a sua riqueza e a verdade e que as imagens são inegavelmente belas!

    Boas leituras!! ;)
    no-conforto-dos-livros.webnode.com

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  2. Não acho que a mulher moderna seja um animal doméstico, pelo menos não todas. E apesar da mulher precisar avançar em vários aspectos, é inegável que hoje temos como nos rebelar. Em relação ao museu, é sempre uma pena ver nossa cultura sendo perdida, ainda mais pela incompetência de governantes que nós mesmos elegemos.
    Bjs Rose

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  3. Adorei a resenha. Já conhecia o livro e acredito que este deveria ser leitura obrigatória em todas as formação "humanizadas". Despertar a porção selvagem se faz esencial. É manter viva a humanidade.
    Manter um museu vivo é manter e alimentar a memoria das pessoas quem não presenciaraquel@yahoo.com.br a história.

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  4. Livro profundo, além da relação com o arquétipo da mulher adestrada ou ‘animal doméstico’, tem outro aspecto relevante, o perdão. “O que se teme pode fortalecer. Pode curar.”


    Assinado: Amandia

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  5. Adorei conhecer a obra através da sua resenha, o livro parece ser espetacular, com uma mensagem importante e que me deixou com vontade de ler!

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  6. Olá!
    Adorei a resenha, não conhecia o livro e parece ser ótimo, além de ter uma reflexão. Sobre o incêndio no museu, é lamentável a perda histórica.

    Abraços.

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  7. Como eu já tinha te dito, sua resenha está foda! Amei sua sinceridade e o pedaço de seu sentimento que foram colocados nessa resenha, e relacionar a obra, com a tragédia que vivemos ao ver anos de histórias sendo engolidos pelo fogo é uma forma diferente de falar sobre sobre essa natureza da mulher selvagem, e mesmo achando que posso não ter entendido tudo eu realmente fiquei impactada com a força das suas palavras nessa resenha. <3

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  8. Que resenha perfeita é essa? Você escreve muito bem!
    Eu não fazia ideia da existência dessa obra, confesso, mas agora sinto a necessidade de ler imediatamente. Parece ser uma daquelas leituras obrigatórias da vida, por tratar de um assunto tão importante.
    beijos

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  9. Comecei a ler esse livro e estou adorando, o círculo de mulheres do qual faço parte vamos discuti-lo todo mês, um capítulo. Realmente necessário as mulheres terem acesso a ele e sua resenha dará essa oportunidade!
    Beijos

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    Respostas
    1. Esse livro é extraordinário. Um capítulo por mês é um mergulho profundo, espero que aprecie e depois me conta como foi o final disso. ^^

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  10. espero ler o mais breve possível. essa edição nova da Rocco tá de arrasar. fiquei doida pra ler ele desde quando tu me falou a respeito...
    :D

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O Poesia na Alma pertence ao universo da literatura livre, como um bicho solto, sem dono e nem freios. Escandalosamente poéticos, a literatura é o ar que enche nossos pulmões, cumprindo mais que uma função social e de empoderamento; fazendo rebuliço celular e sexo com a linguagem.

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