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Resenha – Com certeza tenho amor

 

Marina Colasanti, em Com certeza tenho amor, Editora Global, dialoga com o imaginário para, segundo a própria autora, “O que me interessa não é contar uma história. É utilizar uma história para lidar com o amor e com o ódio, com o medo, o ciúme, o desejo, a grandeza humana, sua pequenez e sua morte”.

 

Apesar do título, esse não é um livro sobre o amor romântico, mas sobre a mítica que habita esse sentimento e outros para o mundo infanto-juvenil. Assim, o dito e não dito está na sutileza das ideias como ponte de expressão da alma.

 


No conto São os cabelos das mulheres, os homens, motivados por antigas tradições, atribuem às mulheres o problema de uma chuva interminável que já inundava tudo. Decidem, portanto, cortar todos os cabelos das mulheres da aldeia, “(...) enquanto as mulheres abaixavam a cabeça deixando a água escorrer em filetes sobre a pele nua”, assim a chuva foi apaziguada até que cedeu ao céu limpo. Porém, terríveis serpentes começaram a invadir a cidade.

 

Nesse momento, os aldeões entendem que são os cabelos das mulheres. “Mas como acabar com o flagelo se lhes faltava o remédio?”. Desesperados, começaram a procurar de casa em casa, a esperança de um fio de cabelo que fosse, e se depararam com uma menina que havia sido poupada de ter seu cabelo cortado em praça pública, era tão pequena que passou despercebida, acharam que era um menino.

 

Desatado o cordão que prendia o rabicho, os cabelos desceram cobrindo as orelhas. A mãe colheu um fio, enfiou-o numa agulha. Todos olhavam. Todos viram a mãe levantar a pedra, suspender a serpente que ali se abrigava e, com pontos firmes, coser-lhe a boca. Todos viram a serpente afastar-se deslizando ladeira abaixo.

 

Foi necessária uma criança para devolver serenidade à aldeia, mas a alegria só fora reencontrada quando todas tiraram o xale que cobria suas cabeças e deixaram livres os seus cabelos. “ – São os cabelos das mulheres – disseram os homens farejando o ar que se fazia mais fino. E sorriam”.

 

Usando os símbolos das estações, inverno, primavera, serpente, cabelos, homens, mulheres, é possível neste conto, destacar o homem que tenta subjugar a natureza e a mulher. Mas, somente a mulher pode devolver a liberdade (Primavera) e somente a mulher pode devolver a alegria.

 

Há nesses contos uma semente da liberdade e autonomia que fecunda o imaginário sobre esperança, cooperação, relações familiares e sociais, solidão, natureza, amor, ódio, ignorância, inocência. Sem, contudo, a lógica do bem ou mal, mas as diversas possibilidades de se colocar no mundo.


5 comentários:

  1. Olá, tudo bem? Adorei a dica! E parece realmente um conto encantador e cheio de pormenores que podemos tirar de reflexão. Interessante! Não conhecia, devo admitir, mas fiquei hiper curiosa em ler! Ótima resenha <3
    Beijos

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  2. Oi Lilian.

    Adorei sua dica literária, pois eu gosto de ler contos e você apresentou um livro que eu não conhecer com enredos bastante interessantes. Fiquei muito curiosa para lê-lo, especialmente o conto São os Cabelos das mulheres. Vou tentar adquirir este livro. Parabéns pela resenha.

    Bjos
    https://consumidoradehistorias.blogspot.com/

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  3. Olá,
    Da pra perceber o simbolismo e toda uma coisa de sobrenatural, seja ligado as mulheres ou a crença dos mitos. O título realmente me enganaria sobre o tipo de amor hehehe. Achei interessante, e gostei por ser algo diferente!

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O Poesia na Alma pertence ao universo da literatura livre, como um bicho solto, sem dono e nem freios. Escandalosamente poéticos, a literatura é o ar que enche nossos pulmões, cumprindo mais que uma função social e de empoderamento; fazendo rebuliço celular e sexo com a linguagem.

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