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Habito as distâncias / Maria Keil



Habito as distâncias

vivo dentro das distâncias

 

as tuas mãos, o teu rosto,

a claridade, que pelos teus olhos…

o mundo, que pelos teus olhos…

povoam as minhas distâncias.

Sabias?

 

Não. Ninguém sabe de ninguém os mundos

que cada um habita.

 

Falo-te. Nunca te disse.

em longas falas digo-te coisas tão particulares

de cada um de nós

de tudo em volta.

Das pequenas misérias diárias

dos pequenos nadas

do livro que se leu.

Do que se sente

do que se pressente

do que dói.

Das coisas diárias…

 

Do reparar nas coisas. A beleza das coisas.

Da harmonia do silêncio. A harmonia.

Das raízes sinuosas do afeto os inexplicáveis elos.

 

Tudo fica entre mim.

É quase perfeito como diálogo, o nosso.

Que me responderias?

Que me poderias responder melhor

do que aquilo que te atribuo como resposta?

 

Na minha distância espero-te

sabendo que não sabendo tu que te espero

nunca virás.

É isso essencialmente a distância.

Aí preparo em cada dia especiais momentos

para a tua inexplicável chegada.

 

(Maria Keil. In: Árvores de domingo. Lisboa, Livros Horizonte, 1986. Um álbum de ilustrações e textos poéticos onde se revela a grande sensibilidade literária e estética de Maria Keil.)


4 comentários:

  1. Oi!!

    Eu tenho gostado muito de ler poesia ultimamente, parece que todas que eu leio conversam muito comigo HAHAHAHAHAH ainda não conhecia essa poetisa e adorei esse poema que você separou, muito bonito e agora já quero conhecer mais sobre ela!!

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  2. Olá,
    Sempre fico um pouco perdida com as poesias rs. Pareceu uma despedida mas não sei se entendi muito bem.

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  3. Gostei muito da sensibilidade do poema, eu não costumo ler e por aqui tenho mais acesso a esse gênero literário que a propósito é muito bacana :)

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O Poesia na Alma pertence ao universo da literatura livre, como um bicho solto, sem dono e nem freios. Escandalosamente poéticos, a literatura é o ar que enche nossos pulmões, cumprindo mais que uma função social e de empoderamento; fazendo rebuliço celular e sexo com a linguagem.

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