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Às vezes, tomávamos o mesmo ônibus para ir ao colégio / de Elaine Araújo Brito

 


PRIMEIRO AMOR

 

Às vezes, tomávamos o mesmo ônibus para ir ao colégio. Às vezes, eu passava de bicicleta pelo portão da sua casa. Às vezes, a gente se encontrava na esquina. Às vezes, eu te olhava pela janela. Em todas as vezes, um quase. Foram tantos quase, tantos!

 

Nos fins de tarde, eu me sentava na varanda da frente e suspirava para o céu. Escrevia para te chamar! E lá vinha você, de quando em quando, aparecendo no fim da luz, e eu me gabando dentro da minha cabeça sobre uma tal conexão de almas que inventei.

 

A gente nem se cumprimentava. Puxo pela memória o motivo e não vem. Crescemos no mesmo bairro, na mesma rua, nossas famílias se conheciam, nossas casas ficavam apenas a uns metros de distância uma da outra, por que mantivemos aquele abismo entre nós durante quinze anos, você se lembra?

 

Sei lá, tanto faz agora, a gente cresceu.

 

Mas antes de crescermos, houve aquela noite no fim de um verão. Alguém me disse que você falou e pediu e não sei o quê... as cenas se misturam em minha mente. De certeza mesmo, só que nos beijamos na praça da igreja. Foi bonito. Teve gosto de aventura, de proibido, de conquista, de amor eterno. Nos demos as mãos e fizemos juras. A gente acreditava, e porque acreditávamos, aquela noite duraria para sempre.

 

Naquele tempo, o mundo ainda era pequeno e planejamos percorrê-lo a pé. Talvez você fosse médico, mas sonhava mesmo subir montanhas e contemplar as estrelas lá de cima. Eu também iria. Nosso mundo inteiro cabia numa janela sobre o mar.

 

Então amanheceu.

 

Sobre a autora:

 

Elaine Araújo Brito é carioca, inquieta, escritora, revisora e preparadora de textos na Editora Caravana. Multitarefas, publicou três livros solo, além de dezenas de textos espalhados por coletâneas e revistas literárias. É uma das coordenadoras do Coletivo Escreviventes; colaboradora da Revista Mormaço e mantém um IG sobre literatura e assuntos aleatórios.

Instagram: @elaine.escritora


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O Poesia na Alma pertence ao universo da literatura livre, como um bicho solto, sem dono e nem freios. Escandalosamente poéticos, a literatura é o ar que enche nossos pulmões, cumprindo mais que uma função social e de empoderamento; fazendo rebuliço celular e sexo com a linguagem.

Instagram: @poesianaalmabr