Deserda o passado e se atualiza | Eliane Souza

 

ELA

 

Debruça-se no leito e chora a dor.

Tantas marcas a puseram neste lugar.

Depois, recompõe-se para cumprir o labor.

Senta e espera o desconhecido,

que chega e a beija com lábios frios.

Não o reconhece sob suas vestes escuras.

Um dia foram camufladas: quimera, ilusão.

Velada, sabe sufocar-se e ser cativa.

Acreditou estar nele seu contentamento,

ansiou n’outra alma, n’outra voz... um alento.

Vê a vida passar... A angústia do adeus!

Não consegue projetar um espaço seu.

Não a ensinaram, mas pôde assistir,

outras semelhantes conquistarem um lugar.

Quiçá, daí, o desejo de se rebelar.

Um dia, desperta enquanto avista o sol.

Tateia-se, iça, vivifica. Cresce-lhe desejos.

Anseia a imensidão do m’ar, uma história.

Deserda o passado e se atualiza...

Nota o gosto, sente a pele, aprecia a alma

 

Sobre a autora:

Eliane Souza teve os poemas Ausência e Simplesmente amor publicados em livro: Coletânea de Poesia 1: Mulherio Das Letras Na Lua, sob organização de Chris Herrmann e Adriana Mayrinck. “Vale a pena” que compõe o livro: Louvação: Antologia poética da Academia de Letras.E o poema “Há uma voz” que irá compor a coletânea “Todas Elas em Nós”, pela Editora Quincas.

Instagram: @ elianesouza0712

(Texto selecionado para o projeto Leitura Feminista, iniciado em 2019, em parceria com o blog Barda Literária que este ano, no mês de março, apoiará poetisas)