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Manifesto de um escritor sem palavras


Há algum tempo as palavras foram embora e encontro-me em um limbo de plena solidão. Para os mais céticos é pura falta de inspiração, entretanto me sinto suficientemente consciente para reconhecer o fim do que parecia um mundo infinito. Os personagens mortos permanecem em silêncio eterno e os vivos não contam mais suas histórias e vivem na memória de seus leitores. As criações se foram e o frio na barriga no iniciar de uma nova página parecer terminantemente excluído da minha lista de sentimentos diários.
Certo dia, enquanto visitava uma cidade história fui reconhecido por uma senhora na casa dos sessenta e nós, envolvidos por um ocaso sem vida, conversamos sobre os meus dias de glória. Ela disse como passava sempre ao anúncio de uma nova edição nas portas das livrarias ansiosa com o livro.
Nunca fui um escritor de sucesso pelo qual as pessoas poderiam sentir falta e muito menos fui aclamado com uma legião de fãs cercando-me na noite de autógrafos.  Questionar o fato das pessoas deixarem a leitura para aventuras no mundo cibernético é perda de tempo. O mundo mudou e com ele perdemos a admiração pelos clássicos. Meus filhos não ouvirão falar de Skakespeare e muito menos de Fiódor Dostoiévski.
O sentido das palavras não permeia a forma como ela é escrita. Talvez essa seja a razão para perdê-las ao passar do tempo. O encantamento pelo mundo também se tornou monótono e o virtual ganhou a simpatia das pessoas. Facilitam o dia implantando informações em pequenos chips e estes são permanentemente implantados nos cérebros dos humanos. Esqueçam as viagens, as longas leituras e todo o prazer ao físico.
Aqui estão elas ressurgindo no meu manifesto. Não as perdi deixei que o mundo as levasse embora.
Como desejo a cada dia acordar e deparar com o fim de um sonho ruim.

Palavras encontradas no ano de 5.001 sem resgistro de autoria. Em um exame mais detalhado realizado pelo Centro de Pesquisas Avançadas de New York foi comprovado que o manuscrito data de ceca de duzentos anos.
R.S.Merces

2 comentários:

O Poesia na Alma pertence ao universo da literatura livre, como um bicho solto, sem dono e nem freios. Escandalosamente poéticos, a literatura é o ar que enche nossos pulmões, cumprindo mais que uma função social e de empoderamento; fazendo rebuliço celular e sexo com a linguagem.

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