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Um dia de poesia



Olá, gente amor!



E que venha agosto, com todas as suas nuances e surpresas. Como não podia deixar de ser, o primeiro dia do mês é para o melhor da poesia. Hoje, trago a vocês um poema que estou sempre lendo ou ouvindo... Linha Reta, de Fernando Pessoa. Segundo o calendário xamãnico, este é o tempo da introspecção, também conhecido como Bhadra. 

"O girassol é a flor consagrada ao mês do Bhadra, segundo antigas tradições, e acredita-se que dá muita sorte e atrai a fortuna dar ou receber esta flor durante o mês de agosto."




Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.


E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.


Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...


Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,


Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?


Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?


Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Fernando Pessoa

(Álvaro de Campos)

4 comentários:

  1. Olá, tudo bem?

    Que post amor, que poesia mais linda!!! Estou encantada com cada palavra... Parabéns por essa postagem e pelo blog.

    Beijos, And!

    Blog Cantinho da And

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  2. Olá Lilian,
    Eu já disse várias vezes que não gosto de poesias e tudo mais, mas você de fato pegou no meu ponto fraco...
    Sou completamente apaixonada por Fernando Pessoa...
    Amei o post...
    E que venha esse novo mês!

    beijos
    Mayara
    Livros & Tal

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  3. Nossa!! Como resistir a Fernando Pessoa?? Impossível, não é mesmo??
    As poesias dele deveriam ser cantadas, pois com toda certeza ele conquista qualquer pessoa. Enfim... Amei <3
    Bjs Lilian!!

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  4. Oi!
    Adoro poesia e Fernando Pessoa já e um velho conhecido meu, adoro suas poesias e o modo que ela nos faz pensar com certeza um ótimo inicio para agosto !!!

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O Poesia na Alma pertence ao universo da literatura livre, como um bicho solto, sem dono e nem freios. Escandalosamente poéticos, a literatura é o ar que enche nossos pulmões, cumprindo mais que uma função social e de empoderamento; fazendo rebuliço celular e sexo com a linguagem.

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