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Resenha – Neblina



Publicado originalmente em 1972, Neblina, de Adalgisa Nery, 190 páginas, ganha, em 2016, uma segunda impressão pelo Grupo Editorial Record. Na década de 70, Adalgisa, após um autoexílio, sofre um acidente vascular cerebral que a deixa com o lado direito do corpo paralisado, tal como acontece com a personagem narradora de Neblina.

"Tudo era mudo e nessa mudez recebi o mistério dos grandes elementos da vida e da morte."

Com uma história muda e cheia de lamento, a protagonista, após sofrer complicações numa operação, fragilizada e sem poder falar, fica totalmente dependente de sua família, que tira proveito da situação.

"As portas do meu ser, lentamente, se abrem e despejam na imobilidade da noite todas as imagens que participaram dos meus erros e dos meus acertos ocasionais. Elas se levantam impiedosas, confabulam, discutem a minha pessoa humana, apalpam as minhas carnes sofridas, fazem perguntas irrespondíveis e depois largam-me desunida de mim mesma. Num trágico sentido de matéria desprezível, no fundo do meu raciocínio há qualquer obstáculo intransponível que me impede fixar se esse desterro, em que estou jogada, é oriundo de alguma palavra, gesto recente ou remoto. Numa paralisação completa sinto o movimento das raízes da minha origem procurando alcançar o meu pensamento. O vigor da vontade sobre a integridade dos meus sentidos se esfacela na luta de analisar os vagos traços de ligação na soma de experiências, erros e ímpetos mal distribuídos durante a minha vida, que, afinal, está resumida apenas numa simples contagem de anos."

A mulher abandonada por aqueles que deveriam amá-la, descreve o quanto o ser humano pode ser desprezível e vazio. O silêncio de sua voz cria diálogos-gritos que mostram a interior de seus pais, irmã e marido.


A mudez daquela que está numa situação de vulnerabilidade, constrói diálogos simbólicos e que incomodam. Causam dor. Dor muda. Dor-nó-na-garganta. É de se pensar na humanidade, mas sem o humano. Com isso, a personagem passa a ver o mundo por uma neblina apática. Os alimentos não têm sabor. A vida não tem sabor. Seus antigos amores, turvos pela neblina, perderam a voz e a alma. 

Por Lilian Farias

14 comentários:

  1. Olá lindona,
    fiquei apaixonada pela resenha e já coloquei esse livro na minha lista.
    Super me interessei.
    Beijos.

    meumundosecreto

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  2. Oi, como vai?

    Não conhecia o livro, mas sua resenha aguçou bastante meu interesse, adoro textos comoventes, desses que faz com que você se ponha no lugar do personagem, e sente todas suas dores e emoções. Embora minha lista de leitura esteja gigantesca, esse faço questão de acrescentar esse a ela. Sua resenha excelente,parabéns!

    http://www.cristinadeutsch.org/
    Saudações literárias.
    Beijos no ♥

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  3. OI Lílian,
    Sua resenha conseguiu me despertar a atenção para a leitura. Fiquei curiosa para saber mais sobre o livro. Me parece um pouco "pesado", mas vou pesquisar um pouco mais.
    Beijos
    Blog Relicário de Papel
    relicariodepapel.wordpress.com

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  4. Oioi! Tudo bem?
    Fiquei interessada em ler após saber a sua opiniao pela resenha.
    Já vi que vou ficar revoltada com tudo que a protagosnista sofre, com certeza um livro que vai mexer comigo.
    Beijos

    Livros e SushiFacebookInstagramTwitter

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  5. Olá! Isso é o bacana da literatura: um livro pode despertar diferentes interpretações e tocar leitores de maneiras diferentes, Neblina não me tocou como eu esperava.

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  6. Oi Lilian, tudo bem?
    Eu não conhecia o livro ainda, mas com a sua resenha fiquei bastante curiosa. Gosto de ler livros onde os personagens principais não são aqueles estereótipos que costumamos ver por aí. Essa parece ser uma história triste, mas daquelas que a gente precisa ler.
    Beijos
    http://profissao-escritor.blogspot.com.br/

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  7. Olá!
    Eu não conhecia esse livro e mesmo não gostando muito do gênero, fiquei curiosa sobre essa obra.
    Me parece ter uma carga emocional bem forte e ser uma leitura de certa forma "pesada".
    Ótima resenha e já anotei a dica, vou ler quando puder.
    Beijos!

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  8. Nossa Liliam amei essa resenha, que livro intenso. Gosto muito de leituras onde o leitor se vê conectado com o personagem, ainda mais nessa situação. Perfeito. Vou anotar a dica.

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  9. Parece um livro maravilhoso e bem reflexivo, mas não leria no momento!
    www.belapsicose.com

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  10. Hey, Lilian! Tudo bem?

    Eu tenho certeza de que a história é linda, mas eu simplesmente não tenho estrutura pra esse tipo de livro. Não me faz bem.
    Vou deixar passar a dica.

    Beijos!

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  11. Lilian, não conhecia a obra e confesso que adorei a premissa.
    Parece ser uma reflexão e cheio de ensinamentos.

    Lisossomos

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  12. Oii,
    Adorei sua resenha, muito bem escrita, mas o livro acabou não me chamando muita atenção, mesmo ele parecendo ter uma historia muito boa.

    Abraços!
    http://lendocomobiel.blogspot.com.br/

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  13. Oie
    uau eu sempre conheço alguma coisa nova nesse blog ahhaha pois foge bastante dos gêneros que leio e como sempre, parece ser uma leitura muito interessante

    Beijos
    http://realityofbooks.blogspot.com.br/

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  14. Oi Lilian, sua linda, tudo bem?
    Me coloquei no lugar dela e só uma palavra veio a minha mente: desespero. Nossa, dizer que é horrível não se aproxima da realidade dela. Infelizmente é nessa hora que vemos o pior dos outros, quando deveríamos ver o melhor. Dica muito mais do que anotada. Sua resenha ficou ótima!!!
    beijinhos.
    cila.
    http://cantinhoparaleitura.blogspot.com.br/

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O Poesia na Alma pertence ao universo da literatura livre, como um bicho solto, sem dono e nem freios. Escandalosamente poéticos, a literatura é o ar que enche nossos pulmões, cumprindo mais que uma função social e de empoderamento; fazendo rebuliço celular e sexo com a linguagem.

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