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a princesa de braços cruzados / adília Lopes

By imagem - google
 


– Não quero trabalhar nem estudar, o que eu quero é namorar. –  disse a princesa e cruzou os braços.

Dormia de braços cruzados e tinham de lhe dar de comer porque a princesa só podia abrir os braços para abraçar o namorado e não havia nenhum namorado para ela.

Quando se acabou o dinheiro, acabaram-se as criadas e acabou a comida. A princesa morreu de fome, muito suja, mas sempre de braços cruzados.

E nem os cangalheiros nem os médicos legistas lhe conseguiram descruzar os braços porque nem os cangalheiros nem os médicos legistas eram o namorado da princesa de braços cruzados porque não havia namorado para ela.

Foi conservada em formol dentro de um frasco de vidro transparente para ser mostrada aos visitantes do Museu de História Natural. Na placa que dá informações sobre o conteúdo do frasco está escrito em latim: “só descruzará os braços quando lhe aparecer um namorado”. Todos no museu têm a esperança de que um dia um visitante saiba latim e seja o namorado da princesa de braços cruzados.

Mas a empregada do balcão do bar do Museu, menos positiva do que o resto do pessoal, resolveu fazer o mesmo que a princesa de braços cruzados. Por isso não há bicas para ninguém.


(Adília Lopes, Caras Baratas (antologia), ed. Relógio D’ Água)


3 comentários:

  1. Olá, tudo bem?
    Eu não conhecia esse texto ainda e nem a autora, mas achei uma leitura bem interessante. Me fez refletir sobre uma época em que as mulheres eram criadas para casar e como isso as tornava dependentes. Pois, sem os "príncipes", elas não tinham como se manter, não eram preparadas para trabalhar e garantir o próprio sustento. Mas o texto também me fez pensar a respeito da desigualdade social, e como há uma diferença nas consequências e até mesmo na reação das pessoas quando uma "princesa" decide cruzar os braços e quando quem cruza os braços é uma trabalhadora. Talvez minha interpretação do texto tenha sido totalmente errada, mas foram questões que a leitura me fez pensar hehe.
    Beijos!

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  2. Olá,
    Achei interessante que mesmo um texto tão curto é possível tirar muitas conclusões. Desde a 'dependência' que se impõe as mulheres de viver (e morrer) de amor até mesmo a questão de status. Gostei do texto.

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  3. Suas postagens são ótimas, estou seguindo seu blog e curtindo bastante!! Parabéns!

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O Poesia na Alma pertence ao universo da literatura livre, como um bicho solto, sem dono e nem freios. Escandalosamente poéticos, a literatura é o ar que enche nossos pulmões, cumprindo mais que uma função social e de empoderamento; fazendo rebuliço celular e sexo com a linguagem.

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