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Sanduíches / Elizabeth Smither #PoesiaRotaMundo

 



Quando meu pai morreu, comemos sanduíches.

No dia do funeral um prato de sanduíches

antes de irmos para a igreja, o cemitério.

O que vamos jantar? Sanduíches.

 

Não me lembro dos recheios. Presunto ou queijo?

Algo mundano. Apenas o pão reconfortante

como colchões pressionados na dor

as pequenas mordidas suaves que demos, o pão branco fino

 

as crostas deixadas de lado como se fossem trabalhosas

ou comê-las era ganância. A limpeza dos pratos

não estava na prescrição daqueles dias

ou tirar a última migalha.

 

Nós emagrecemos nos dias de sanduíches.

Minha saia preta pendia frouxa na cintura

e suas pregas profundas avançavam

à minha frente, mais ousadas que meus pés.

 

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When my father died we ate sandwiches.

On the day of the funeral a plate of sandwiches

before we went to the church, the cemetery.

What shall we have for dinner? Sandwiches.

 

I don’t remember the fillings. Ham or cheese?

Something mundane. Only the comforting bread

like mattresses pressed on grief

the small soft bites we took, the fine white bread

 

the crusts laid aside as if they were wearisome

or to eat them was greed. Cleaning of plates

was not in the prescription of those days

or taking the last crumb.

 

We grew thinner on days of sandwiches.

My black skirt hung loosely at the waist

and its deep box pleats strode forth

ahead of me, bolder than my feet.

 

 

(Elizabeth Smither. Fonte: bestnewzealandpoems)

 

 

 

Sobre a autora:

Elizabeth Smither (1941) é poetisa, romancista e contista nascida na Nova Zelândia, onde trabalha como bibliotecária. Suas inúmeras poesias foram publicadas ao lado de vários romances e coleções de contos. Seu estilo poético é considerado idiossincrático, ao mesmo tempo em que ultrapassa o autor referencial para as áreas de personagens lendários, o catolicismo e o funcionamento da própria linguagem. Sobre seus poemas ela diz, 'você tem que usar todos os seus sentidos para abri-los'. Além de receber vários outros prêmios, Elizabeth Smither foi nomeada a Te Mata Poet Laureate de 2002. Em 2018, a coleção Night Horse de Smither ganhou a categoria de poesia do 50º Ockham New Zealand Book Awards. (Fonte: Leia Nova Zelândia).

 

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Poesia selecionada para o projeto RotaMundo em parceria com o blog Na Literatura Selvagem que neste mês terá poetas dos países: Austrália, Nova Zelândia e Papua Nova Guiné.


Um comentário:

O Poesia na Alma pertence ao universo da literatura livre, como um bicho solto, sem dono e nem freios. Escandalosamente poéticos, a literatura é o ar que enche nossos pulmões, cumprindo mais que uma função social e de empoderamento; fazendo rebuliço celular e sexo com a linguagem.

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